terça-feira, 27 de setembro de 2016

The FSB´s performance in the new military crisis in Ukraine

(Lubyanka building, in Moscow, the old headquarters of the feared KGB and current FSB. The service has undergone various nomenclatures since it´s founding in December 1917. It´s diffcult to know were its activity ends and begins the Russian state.)

In the previous text I commented that the main factor of the increasing military tension in Ukraine and the siege of the country by the Russian troops was the alleged attempt of terrorist attack by members of the Ukranian Minister of Defense´s Main Intelligence Directorate. According to the FSB, the Russian secret service, the evening of 6 to 7 August a group of seven people was arrested near Armyansk, in Crimea, with twenty homemade explosives and weapons belonging to the Ukranian army. Their goal would be sabotaging the peninsula´s infraestructure and undermine federal and regional elections held on September 18th. In attempting arrest of the group an FSB officer was killed and two other were injuried. Ukranian and Russian citizens, who would have collaborated with the group, were also arrested.

At the end of my review I said it was unlikely that the story released by the FSB report was true given the Russian secrete service´s history, successor of the famous Soviet KGB and from which Vladimir Putin himself emerged. But this conclusion was generic because I know too little about this body, which acts, as it´s name says, behind the scenes and is often object of discussion among analysts who have difficulty in mesuring it´s real power in Russia today.

(Ukranian political analysts Anton Shekovtsov: a leading researcher of the relanshionship between the Kremlin and the contacts network with the European far-right.)

The political analyst Anton Shekovstov presents a plausible explanation that enriches my previous analysis. According to the researcher, the accusation that Ukraine would be responsable to the terrorist attempt was highly unlikely because, although the country had received much Western aid in the crisis, the military aid with lethal weapons was nonexistent. Kiev cannot cope with an increase of Russian military activity. In this regard, the country is alone and it would be very counterproductive to perform a terrorist attempt that would result in the war´s intensification.

Shekovtsov says the attempted terrorist attack was a psychological operation (psyop) created by the FSB in the "Crimea situation" context whose goal was to increase pressure on Ukraine and Western countries that imposed economic sanctions against Russia. He explains that this situation has paralell with Trust Operation of the 1920s created by the Soviet secret service. At the time, OGPU (future KGB) created a false monarchist and anti-communist group to lure real militantes of these causes. As a result, the militants were gathered, identified and eliminated by the regime, as well dissolved their contacts network in the country and abroad.

(Officer identified with the acronym "FSB", in Russian, in and antiterrorist operation [would be in Crimea?]) 

The FSB would have created a false Ukraninan organization in Crimea to lure Ukranian nationalists and local sympathizers determined to re-establish the peninsula unity with the country or at least sabbotage the Russian occupation. The officers would have placed themselves as members of the Ukranian Minister of Defense´s Main Intelligence Directorate for the real militants to believe in the organization´s credibility and provided the held bombs and weapons. As result of the arrest of the alleged terrorists (deceived by FSB), Moscow accused Ukraine of being author of the plan presenting them as Kiev´s agents and, furthermore, it said it was useless to negotiations to the ceasefire.

Chronologically this operation makes sense when we consider that before the arrest of the alleged terrorists in the night of 7 to 8 August, on 6 there already had great movement of Russian convoys in the city of Kerch toward the Crimea. A war on the battlefield always comes accompained by a propaganda war which makes it more predictable understanding of the strategy, but when the secret service comes into play the problem´s calculation gets more complicated. Otherwise the secret service wouldn´t be "secret". It is there to create confusion, confuse the enemy and set the trap to the real fighters, such as the Ukranian nationalist militants who where presented as the real makers of terrorism while the war´s trap  was planned in Russia´s offices.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A atuação da FSB na nova crise militar na Ucrânia

(Edifício Lubyanka, em Moscou, antiga sede da temida KGB e atual sede da FSB. O serviço passou por diversas nomenclaturas desde sua fundação em dezembro de 1917. É difícil saber onde termina sua atividade e começa a do Estado russo.)

No texto anterior comentei que o principal fator do aumento da tensão militar na Ucrânia e o cercamento do país pelas tropas russas foi a alegada tentativa de ataque terrorista por parte de membros da diretoria geral de inteligência do Ministério de Defesa Ucraniano. Segundo a FSB, serviço secreto russo, na noite de 6 para 7 de agosto um grupo de sete pessoas foi detida perto de Armyansk, na Crimeia, com vinte explosivos caseiros e munição pertencentes ao exército ucraniano. Seu objetivo seria sabotar a infraestrutura da península e prejudicar as eleições federais e regionais ocorridas em 18 de setembro. Na tentativa de prisão do grupo um agente da FSB foi morto e outros dois ficaram feridos. Cidadãos ucranianos e russos, que teriam colaborado com o grupo, também foram presos.

Ao final do meu comentário disse que era provável que a história divulgada pelo relatório da FSB não era verdadeira dado o histórico do serviço secreto russo, sucessor a famosa KGB soviética e da qual surgiu o próprio Vladimir Putin. Mas esta conclusão era genérica dado que conheço muito pouco sobre este órgão, que age, como diz seu nome, nos bastidores e é frequente objeto de discussão entre analistas que têm dificuldades em mensurar seu real poder na Rússia atual.

(Analista político ucraniano Anton Shekovtsov: um dos principais pesquisadores sobre a relação entre o Kremlin e a rede de contatos com a extrema-direita europeia.)

O analista político Anton Shekovtsov apresenta uma explicação plausível que enriquece minha análise anterior. Segundo o pesquisador, a acusação de que a Ucrânia seria responsável pela tentativa de terrorismo era altamente improvável porque, mesmo que o país tenha recebido muito ajuda do Ocidente na crise a ajuda militar com armas leitas era inexistente. Kiev não tem como lidar com um aumento da atividade militar russa. Neste aspecto, o país está sozinho e seria muito contraproducente levar à cabo um atentado terrorista que teria como consequência a intensificação da guerra.

Shekovtsov diz que a tentativa de ataque terrorista era uma operação psicológica (psyop) criada pela FSB no contexto da chamada "situação da Crimeia" cujo o objetivo era aumentar a pressão sobre a Ucrânia e os países ocidentais que impuseram sanções econômicas contra a Rússia. Ele explica que esta atuação tem paralelo com a "Operação Trust" da década de 1920 criada pela então serviço secreto soviético. Na época, a OGPU (futura KGB) criou um falso grupo de monarquistas e anticomunistas para atrair os reais militantes destas causas. Como resultado, os militantes foram reunidos, identificados e eliminados pelo regime, bem como desbaratado sua rede de contatos no país e no exterior.

(Agente identificados pela sigla "FSB", em russo, numa operação antiterrorista [seria na Crimeia?])

A FSB teria criado uma organização ucraniana dentro da Crimeia para atrair nacionalistas ucranianos e simpatizantes locais determinados a reestabelecer a união da península com o país ou pelo menos sabotar a ocupação russa. Os agentes teriam se colocados como membros do diretório geral de inteligência do Ministério da Defesa Ucraniano para que os reais militantes acreditassem da credibilidade da organização e providenciado as bombas e armas apreendidas. Como resultado da prisão dos supostos terroristas (enganados pela FSB), Moscou acusou a Ucrânia de ser autora do plano apresentando-os como agentes de Kiev e, de quebra, disse que era inútil estabelecer negociações para o cessar-fogo.

Cronologicamente esta operação faz sentido quando levamos em consideração que antes da prisão dos supostos terroristas, na noite de 7 para 8 de agosto, no dia 6 já havia grande movimentação de comboios russos na cidade de Kerch em direção à Crimeia. Uma guerra no campo de batalha vem sempre acompanhada de uma guerra de propaganda o que torna mais previsível a compreensão da estratégia, mas quando o serviço secreto entre em cena o cálculo do problema fica mais complicado. Caso contrário o serviço secreto não seria "secreto". Ele está lá para criar confusão, confundir o inimigo e armar a arapuca para os reais combatentes, como os militantes nacionalistas ucranianos que foram apresentados como reais mentores do terrorismo enquanto que a armadilha da guerra era planejada em escritórios na Rússia.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Russia is surrounding Ukraine. Why?

(Pro-Russia separatists´ tanks with the Donetsk People´s Republic´s flags: increase in conflict in Ukraine and military siege by Russia.)

The Olympic Games in Rio de Janeiro began officially last August 5th where the attention of whole world turned. It was a Friday. In the same weekend, the political and military tension in Ukraine conflict grew dangerously. As the world looked at Brazil, Russia began it´s military escalation on the borders of the neighboring country. But why?

(Homemade bombs that would be of alleged Ukranian terrorists. FSB´s photo.)

According to Russia, secret service actions and Ukranian army shelling would be the military escalation cause. In the night from Saturday to Sunday, 6-7 August, a Russian secret service agent (FSB) was killed in an operation to arrest a group of alleged terrorists members of the Ukranian Ministry of Defense´s Main Intelligence Directorate near the city of Armyansk. They would have invaded Crimea with twenty homemade explosives and various weapons (including used by Ukranian forces) that would be used to make attacks and sabotage the local infrastructure. The aim would be to create political instability and undermine regional and federal elections scheduled for September 18th. Local residents said they heard shots during the operation, which were also arrested some Russians and Ukranian citizens who had collaborated with the invaders. The informations were disclosed in an FSB´s report on 10th August. 

In the early hours of Monday, day 8 (some sources put the evening of day 7, suggesting period of the next late night), Ukraine´s special forces would have tried, twice, to enter the peninsula using hard attack with army´s armored vehicles. There was the death of a Russian military.
  
(Igor Plotnitsky, self-proclamed Luhansk Popular Republic´s leader since August 2014.)

Alongside the skirmishes on the border, another event had added to the climate of tension. In the morning of day 6 the self-proclamed Luhansk Popular Republic´s leader, Igor Plotnitsky, was seriously injuried in an explosion of a bomb in the car he was in the city of Luhansk. A bodyguard was killed and two others were injuried, as well several others people. The attempt was confirmed by the Ukraine´s intelligence service, which said there´s a power struggle among the militants. Russia accused Ukraine of carrying out the attack, and the militants said that it was a "terrorista attack" of Ukrainian saboteurs". Kiev denied responsability and said it wasn´t the first time that they try to kill a separatists leader; 

The Kremlin has treated the cases as terrorist attack attempts. Vladimir Putin held on day 8 a metting with the Russian Security Council with the presence of half of it´s twelve members, suggesting the emergence of the meeting. According to the Russian press, in this meeting the government agencies were prepared to communicate future events and first steps were taken to strengthen the Crimean security system. New meeting took place on day 11, Friday, in order to improve security on the peninsula again, this time of it´s inhabitants and infraestructure, and take "anti-terrorist" measures. The Russian president said, in line with the FSB´s report, that "Ukraine is choosing terror" and that he couldn´t  pass the dead of two of his soldiers. The prime-minister Medvedev said Russia could cut relations with Ukraine if the other attempts to resolve the new crisis failed. The strong Putin´s statements served to increase tension in the region and to reaffirm he considers Kiev government illegitimate.

These three events and the aggressive Kremlin´s rethoric are the culmination of increased tension in Ukraine in recent months. Since May the conflict has intensified in Donetsk and Luhansk provinces, especially in the southern portions of these locations, despite the ceasefire agreements search in Minsk in 2014 and 2015. July was the bloodiest month in almost a year, when 42 soldiers were killed and 181 were injuried only in the Ukranian side. Both journalists and observers from the Organization for Security and Cooperation in Europe (OSCE), responsible to verifiying the complicance with the agreements, report the daily bombing of mortars and heavy artillery that had victimized civilians located on both sides of the fight. The violations would come primarily from the Russian side.  

The Russia´s response was the military escalation on the Ukraine´s border. This escalation occurred not only in Crimea, but around almost the entire country, except the borders with Belarus, Poland and Rumania. The Russian move can be seen in the map below.

The Russian military escalation began on day 7 with deslocation of air and naval units in the Black Sea, the convoys moves, military exercises and an aerial defense system in Crimea. 

On this day more troops and new military equipment from Russia arrived to Crimea, and it´s border with Ukraine was closed. Between 8 and 9 Russian tanks conducted military exercises in Transnistria, Moldova´s region on the southwest border of Ukraine, which separatist movement is backed by Moscow. On 11 many Russian trucks, tanks and vehicles convoys entered into Crimea by land through the Kerch strait, as shown images available in the internet. There were also placed new troops to support the separatists in the Donbas region (Donetsk and Luhansk) and new warships and jet fighters started to arrive at the main peninsula´s port, Sebastopol, to join the Black Sea Fleet for conducting military exercises. On 12 Russia installed in Crimea a surface-to-air missile system capable of reaching a distance estimated at between 250 and 400 km. If this maximum range is truth, the Russians can shoot down any airplane that overfly the entire southern Ukraine, desired region by separatists known as Novorossya, to the border with Donbass where conflict is going on. 

Without Crimea, Russia has already moved thirty six brigades, infantries and divisions in all around 100 thousand men on the Ukraine´s borders since last days of July.

(Trucks convoy in Kerch, Krasnodar province, Russia, on August 8th going to Crimea. According to Crimean Human Rights Group, military equipment arrived to the city already on 6, day of the attack to Plotnisky.)

Important to note that all this Russian mobilization around Ukranian territory has already been climbing since July, but there was great convoys mobilization in the same day of the Plonitsky attempt attempt murder which requires prior planning. The mais troops moves, military exercises, weapons and instalation of the missile system, began on the following day, day of the supposed invasion of "terrorists" in Crimea that resulted in the dead of and FSB´s agent. The shooting on the border that would have killed a Russian soldier came a day after the beginning of the escalation. This movement was accompained by a more aggressive rethoric by the Kremlin on 10, which promissed to react to the alleged Ukraine´s actions.

The response of the Ukranian government occurred on 11, day of the largest Russian troops movement and the second Putin´s meeting with his Security Council. President Petro Poroshenko ordered increase in the level of readiness of all military units stationed near border with Crimea and in Donbass. The decision was taken with the main country´s security officers to decide what to do with the charges of "terrorism" attempt by FSB. He also said the accusation that Kiev would have made the two attacks are pretext to threathen military Ukraine,  

Other country´s authorities went further: they accused the Russian government of "histery", "cinism" and "insanity" and compared the alleged attacks to Crimea to Hitler´s strategy when he forged a Polish military attack against the Nazis in 1939 triggering the Second World War. They also compared the support for the war in Donbass to the Stalin´s Great Terror, period of the 1930s when Soviet dictator began a systematic persecution of alleged regime´s opponents with manipulated trials and mass executions. It´s interesting to note that once again authorities and nationalists make a parallel between the current conflict in Ukraine and the experience with the Ukranian people genocide deliberately caused by Stalin in 1932-33 and described in details in The Black Book of Communism.  

(Yvhen Panov, wonded in the forehead, followed by an Russian agent: to FSB a "terrorist".)

One of the unknowns around the regional tension is the identity of the alleged terrorists. The prisioners of the group would be seven, as well several local residents, but only one had his name published. He is Yvhen Panov. According to the newspaper Ukraine Today´s report, his brother, Igor Kotelyanets, gave an interview to Radio Free Europe and said that his brother would have been kidnapped and taken to Crimea, where the terrorist acts would have been forged. Panov worked as truck driver and joined the army as soon as the conflict in the east began in 2014 where he served as volunteer. After he returned to his hometown, Zaporizhia, also in the east, where worked as technician in a nuclear plant. Igor said his brother "would never go to Crimea" and that he was indifferent to the peninsula´s sovereignty. Before his arrest he would meet friends and would return home on Monday 8. For Moscow, Panov was a member of the Ukranian military intelligence and would have "confessed" the alleged crime. In the pictures released by the report he appears arrested and with bruised face.

The Russia´s moves continued on 19. In this day Vladimir Putin made a surprise visit to Crimea, where he wasn´t going since August last year. In another meeting with the Security Council, held to adopt new security mesures in the region, Putin again accused Kiev for attempting to "terrorist attacks" to derail Minsk Agreement and the unwillingness of keeping good relations with Russia. But these statements came in a more conciliatory tone saying that there wasn´t any plan to cut relations with Ukraine, where he hoped to prevail the good sense, and even called his opponents of "our partners" possibly a reference to the historical ties between the two countries. On this trip the Russian president also made a visit to the Tavrida youth educational forum, held since 2014 to form a community of Russian young artists

According to the Ukranian press, new and large Russia´s military exercises began quikly and simultaneously on August 26th with mobilization of tens of thousands men from Southern, Central and Western military regions and Northern Fleet especially next to the borders of Ukraine, Baltic States and in the Crimea. The goal was to keep the troops in readiness for combat. Only on the border with Ukraine, in Donbass and Crimea were allocated 41.600 men of 24 military groups and 771 planes and helicopters. Meanwhile the fighting in Donbas continued. Only between 1 and 4 September there was at least 27 attacks from Russian separatists against Ukranian troops, 15 in Donestk region and 12 in Mariupol, in a violation of the Minsk Agreement. 

(Pro-Russia separatists acting in Ukraine. According to the Ukranian Armed Forces, six thousand Russian servicemen operate in Donbass and 35 thousand separatists are supported by Moscow.)

Analysts bring diverse explanations for this rise in temperature. The researcher Aaron Lorewa say that the main reason to this new tension is in the Russian elections in September for Duma and the crisis in the country combined with two wars that Moscow is involved in Syria and Ukraine. For him wouldn´t have how Russia to sustein both conflicts simultaneously and justifies that escalation on the Ukraine´s borders would serve to boost nationalism and divert attention from potential electoral fraud. But Putin wouldn´t need this, as if the electoral system is dominated by the Kremlin´s members it wouldn´t need to spend so many resources in time of crisis to mobilize more than one hundred thousand men and thousands of weaponry and vehicles in order to divert the public´s attention. It would be a huge unnecessary mobilization. Anders Asland, of Atlantic Council, makes a brief historical survey of the major events that Russia was involved in August: the erection of the Berlin Wall in 1961, the Prague Spring in 1968, the failed coup of 1991 and the Georgia War in 2008. In the latter case, Asland says parallels between the actual tension in Ukraine and the war in Georgia are "shocking". Both cases occured during the choice of the US president, in the early days of the Olympic Games and were preceded by large military exercises by the Russians. The history doesn´t guarantee the repetition of the facts, but the repetition of the Georgia War´s context can be revealing of a way of acting by the Kremlin

I think that the brief analysis of Noah Rothman and James Coyle come closer to the problem highlighting the long stagnation of the conflict and the lack of reaction from Western countries to the new Russian actions. Coyle highlights this stagnation and the economic crisis in Russia, that combined would be forcing Moscow to intensify the conflict. The question seems to be more complex since the Russians have power to intensify the war in Ukraine, but with the risk of a possible reaction from the West. Besides the Kiev´s allies be tired of the sanctions against Russia and suffer pressure from Kremlin´s allied parties, this doesn´t mean that this countries will saty watching to the conflict escalation. From this it deduces that Moscow is intensifying the conflict untill the limit of a Western reaction and/or from NATO. That´s where the Rothman´s analiysis comes (despite having been written five days before the Coyle´s one): Putin would be forcing a Western response, that is, taunting to find how far he can go. With American elections coming, Obama under pressure from party collegues to confront Russia´s actions and Trump stating the possibility of relaxing tensions with Moscow (and Europe involved with Brexit), the Russian government is opening space in an Ukraine increasingly weak and now sieged. This opens the possibility, as says one of interviwees by BBC, that the separatists get to fulfill part of their agenda, that´s legitimate politically the Donestk and Luhansk "people´s republics" and take the Minsk Agreement to fail. It isn´t of Russian interest the ceasefire, at least not now, as this would diminish it´s bargaining capacity. It would lack, therefore, a reaction of the Western countries to hinder the Russia´s pretensions. That´s the Yvhen Marchuk´s complaint, Trilateral group member in Minsk, in an interview to Ukrane Today:
"When Putin said that? After reaching agreements with Erdogan. What was his main obstacle in the Black Sea, the Bosphorus, Syria? Turkey, and only then NATO. Was Putin´s visit to another NATO member Slovenia successful? It was. Did Putin and the British PM agree to meet? Ita may not seem significant, but they did? Where were our President and diplomats? Far away from Europe, even though his visit was very important. But what happende during the week he was absent in Europe?"
Ukraine is part of the so-called frozen conflicts, that are characterized by not being necessarily ended and don´t have a final peace agreement. They are common in the republics that composed USSR and today are in the Russia´s sphere of influence. In these countries there are territories inhabitated by ehtnic minorities with relationship problems with the central government. They begin a separatist movement that leads to an armed conflict. This movement is accompained by Russian military aid, since these minorities are either Russian or are sympathetic to Moscow, that intervenes militarily alleging to protect Russians abroad or allies. These are the cases of Transnistria in Moldova, Nagorno-Karabakh in Azerbaijan and Abkhazia and South Ossetia in Georgia. The result is a de facto territorial separation, but without official recognition from around the world, except Russia and small allies. Beacuse they aren´t definitively ended, these conflicts can reheat and initiate new armed conflicts.

(Disputed territories, local of the frozen conflict, are shown dimmed on the map. In all cases there´s Russia´s action. Added to Syria, they are an annexation and six simultaneous interventions.)

The frozen conflicts have four elements that are decisive for it´s dynamics: internal instability in the countries where they occur, the level of the Russia´s political stability (that influences it´s foreign policy), the reaction of the West to the Russian actions and the Putin government´s goals. This analysis was done by a USIP experts group (United States Institute for Peace) that propose a reassessment of the US foreign policy in the region. The same position is defended by Agnia Grigas, Atlantic Council researcher. Grigas says that the frozen conflicts are interconnected and reveal "a pattern of Russian foreign policy". The intervention gives Russia the control of the breakaway regions in the long term without necessarily dealing with the costs of annexation (except Crimea).     

The USIP´s work is noteworthy because despite having been made in the summer of 2014 (so two years ago) it proves to be right on the dynamics of the current tension. Experts say Putin want to mantain a "constant conflict", destabilize Ukraine and "flauting Russian might in the face of a measured US and EU response". It´s what´s happening with the successive Minsk agreements violantions. Constant regional instability and the fail to stablish a ceasefire makes the crisis a "de facto frozen conflict". At the same time there is a "[un]willingness and ability of the United States and European powers (...) to support Ukraine and motivate Russia to end it´s agression". Besides the war, Kiev government remains warn by internal and external pressure for political and financial reforms that would aim to combat corruption and make the country able to receive Western economic aid.

 (Sleeping in point: while the Western powers don´t react, Russia is advancing in it´s Eurasian project and is incorporating Ukraine to it´s sphere of influence.) 

Ongoing conflict, involvement in two wars in a time of economic crisis, lack of reaction of the West and Ukrainian government´s wear: that´s the perfect setting for Moscow to act. With the US busy with new elections, Europe involved with Brexit and conflict extending indefenitively the Russians found more space to step up their activity in and outside Ukraine. It was not for nothing the new action began in the weekend of the Rio Games opening when attention was directed to Brazil. But this was already planned before the skirmishes on the border with Crimea (skirmishes unconvincing given the historical role of the Russian secret service) as shown by the military movements in Kerch on 6. While the West sleeps in point without signals of an effective response, Moscow gives further steps to the implementation of it´s Eurasian project. 

* publish in Portuguese on September 8th 2016.

** I´m not shure, but the expression in Portuguese "dormindo no ponto" should be translated literally as "sleeping in point", meaning lack of attention for long time. 

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A Rússia está cercando a Ucrânia. Por quê?

(Tanques dos separatistas pró-Rússia com bandeiras da República Popular de Donetsk: aumento do conflito na Ucrânia e cerco militar pela Rússia.)

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro começaram oficialmente no dia 5 de agosto passado para onde se voltaram as atenções do mundo todo. Era uma sexta-feira. No mesmo final de semana, a tensão política e militar no conflito na Ucrânia cresceu perigosamente. Enquanto o mundo olhava para o Brasil, a Rússia iniciava sua escalada militar nas fronteiras do país vizinho. Mas por quê?

(Bombas caseiras que seriam dos supostos terroristas ucranianos. Foto da FSB.)

Segundo a Rússia, ações do serviço secreto e bombardeios do exército ucraniano seriam a causa da escalada. Na noite de sábado para domingo, 6 a 7 de agosto, um agente do serviço secreto russo (FSB) teria sido morto numa operação para prender um grupo de supostos terroristas membros da diretoria geral de inteligência do Ministério da Defesa Ucraniano perto da cidade de Armyansk. Eles teriam invadido a Crimeia com vinte explosivos caseiros e diversos armamentos (inclusive utilizados pelas forças ucranianas) que seriam usados para causar atentados e sabotar a infraestrutura local. O objetivo seria criar instabilidade política e prejudicar as eleições regionais e federais marcadas para o dia 18 de setembro. Moradores da região afirmaram terem ouvido tiros durante a operação, onde também foram presos alguns cidadãos russos e ucranianos que teriam colaborado com os invasores. As informações foi divulgadas num relatório da FSB dia 10.

Nas primeiras horas de segunda-feira, dia 8 (algumas fonte colocam noite do dia 7, o que sugere o período da madrugada seguinte), forças especiais da Ucrânia teriam tentado, por duas vezes, entrar na península utilizando forte ataque com veículos blindados do exército. Houve a morte de um militar russo. 
  
(Igor Plotnitsky, líder da autoproclamada República Popular de Luhansk desde agosto de 2014.)

Paralelamente às escaramuças na fronteira, outro acontecimento somou-se ao clima de tensão. Na manhã do dia 6 o líder da autoproclamada República Popular de Luhansk, Igor Plotnitsky, ficou gravemente ferido na explosão de uma bomba no carro em que estava na cidade de Luhansk. Um guarda-costas morreu e outros dois ficaram feridos, além de várias outras pessoas. O atentado foi confirmado pelo serviço de inteligência da Ucrânia, que disse haver uma luta pelo poder entre os militantes. A Rússia acusou a Ucrânia de realizar o ataque, e os militantes afirmaram que foi um "ato terrorista" de sabotadores ucranianos. Kiev negou a autoria e disse não ser a primeira vez que tentam assassinar um líder dos separatistas. 

O Kremlin tratou os casos como tentativas de ataque terrorista. Vladimir Putin realizou no dia 8 uma reunião com o Conselho de Segurança Russo com a presença de metade de seus doze membros, o que sugere a emergência do encontro. Segundo a imprensa russa, neste encontro as agências de governo foram preparadas para comunicar futuros acontecimentos e foram tomadas as primeiras medidas para reforçar o sistema de segurança da Crimeia. Nova reunião ocorreu no dia 11-feira com o objetivo de novamente melhorar a segurança na península, desta vez de seus habitantes e da infraestrutura, e tomar medidas "antiterroristas". O presidente russo disse, em sintonia com o relato da FSB, que a "Ucrânia está escolhendo o terror" e que não poderia deixar passar a morte de dois soldados seus. Já o primeiro-ministro Medvedev disse que a Rússia poderia cortar as relações com a Ucrânia caso as demais tentativas de resolver a nova crise falhassem. As fortes declarações de Putin serviram para aumentar a tensão na região e reafirmar que considera o governo de Kiev ilegítimo. 

Este dois eventos e a retórica agressiva do Kremlin são o ponto culminante do aumento da tensão na Ucrânia nos últimos meses. Desde maio o conflito tem se intensificado nas províncias de Donetsk e Luhansk, especialmente na porção sul destas localidades, apesar dos acordos de cessar-fogo realizados em Minsk em 2014 e 2015. Julho foi o mês mais violento em quase um ano, quando 42 soldados morreram e 181 ficaram feridos apenas do lado ucraniano. Tanto jornalistas quanto observadores da Organização para Cooperação e Segurança na Europa (OCSE), responsáveis por verificar o cumprimento dos acordos, relatam o bombardeio diário de morteiros e artilharia pesada que tem vitimado civis localizados em ambos os lados do combate. As violações viriam principalmente do lado russo.

A resposta da Rússia foi a escalada militar nas fronteiras da Ucrânia. Esta escalada não ocorreu apenas na Crimeia, mas ao redor de quase todo o país, à exceção das fronteira com a Bielorrússia e a Polônia. A movimentação russa pode ser conferida no mapa abaixo.  


A escalada militar russa começou dia 7 com o deslocamento de unidades aéreas e navais no Mar Negro, a movimentação de comboios, exercícios militares e um sistema de defesa aéreo na Crimeia.

Neste dia mais tropas e novos equipamentos militares da Rússia chegaram à Crimeia, e sua fronteira com a Ucrânia foi fechada. Entre os dias 8 e 9 tanques russos realizaram exercícios militares na Transnístria, região da Moldávia na fronteira sudoeste da Ucrânia, cujo movimento separatista é apoiado por Moscou. No dia 11 diversos comboios de caminhões, tanques e veículos russos entraram na Crimeia por terra através estreito de Kerch, como mostram imagens disponíveis na internet. Também foram colocadas novas tropas de apoios aos separatistas na região de Donbass (onde estão Donetsk e Luhansk) e novos navios de guerra e aviões de combate começaram a chegar no principal porto da península, Sebastopol, para se juntar à Frota do Mar Negro para a realização de exercícios militares. No dia 12 a Rússia instalou na Crimeia um sistema de mísseis terra-ar capaz de atingir uma distância estimada entre 250 e 400 km. Caso este alcance máximo seja verdadeiro, os russos podem abater qualquer avião que sobrevoe todo o sul da Ucrânia, região almejada pelos separatistas conhecida como Novorossya, até a divisa com Donbass onde o conflito está em andamento. 

Sem contar a Crimeia, a Rússia já mobilizou trinta e seis brigadas, infantarias e divisões num total de aproximadamente 100 mil homens nas fronteiras com a Ucrânia desde os últimos dias de julho.

(Comboio de caminhões em Kerch, província de Krasnodar, Rússia, em 8 de agosto indo em direção à Crimeia. Segundo o Grupo de Direitos Humanos da Crimeia, equipamento militar chegou à cidade já no dia 6, dia do atentado contra Plotnisky.)

Importante notar que toda esta mobilização russa em torno do território ucraniano já vinha em escalada desde julho, mas que havia grande mobilização de comboios no mesmo dia da tentativa de assassinato de Plonitsky o que pressupõe um planejamento prévio. A principal movimentação de tropas, exercícios militares, armamentos e a instalação do sistema de mísseis, começou no dia seguinte, dia da suposta invasão de "terroristas" na Crimeia que resultou na morte de um agente da FSB.  O tiroteio na fronteira que teria matado um soldado russo ocorreu um dia após o início da escalada. Esta movimentação foi acompanhada de uma retórica mais agressiva por parte do Kremlin dia 10, que prometeu reagir às supostas ações da Ucrânia. 

A resposta do governo ucraniano ocorreu no dia 11, dia da maior movimentação de tropas russas e da segunda reunião de Putin com seu Conselho de Segurança. O presidente Petro Poroshenko ordenou o aumento do nível de prontidão de todas as unidades militares posicionadas próximas à fronteira com a Crimeia e em Donbass. A decisão foi tomada com os principais oficiais de segurança para decidir o que fazer com a acusação de tentativa de "terrorismo" pela FSB. Ele também afirmou que a acusação de que Kiev teria feito os dois ataques são pretextos para ameaçar militarmente a Ucrânia.

Outras autoridade do país foram mais longe: acusaram o governo russo de "histeria", "cinismo" e "insanidade" e compararam os supostos dos ataques à Crimeia à estratégia de Hitler quando forjou um ataque militar polonês contra os nazistas em 1939 desencadeando a Segunda Guerra Mundial. Também compararam o apoio à guerra em Donbass ao Grande Terror de Stálin, período dos anos de 1930 em que o ditador soviético iniciou uma perseguição sistemática a supostos opositores do regime com julgamentos manipulados e execuções em massa. É interessante notar que mais uma vez autoridades e nacionalistas fazem um paralelo entre o atual conflito na Ucrânia e a experiência com o genocídio do povo ucraniano provocado deliberadamente por Stálin em 1932-33 e descrito com detalhes em O Livro Negro do Comunismo.    

(Yvhen Panov, ferido na testa, acompanhado por um agente russo: para a FSB um "terrorista".)

Uma das incógnitas em torno da tensão regional está na identidade do supostos terroristas. Os presos do grupo seriam sete, além de vários moradores locais, mas apenas um teve o nome divulgado. Chama-se Yevhen Panov. Segundo uma reportagem do jornal Ukraine Today, seu irmão, Igor Kotelyanets, deu uma entrevista à Rádio Europa Livre e disse que seu irmão teria sido sequestrado e levado à Crimeia, onde as ações terroristas teriam sido forjadas. Panov trabalhava como motorista de caminhão e entrou no exército assim que o conflito no leste do país iniciou em 2014 onde atuou como voluntário. Depois ele voltou para sua cidade natal, Zaporizhia, também no leste, onde trabalhava como técnico em uma usina nuclear. Igor disse que seu irmão "jamais iria para a Crimeia" e que era indiferente à questão da soberania da península. Antes de sua prisão ele iria encontrar amigos e voltaria para casa na segunda-feira, dia 8. Para Moscou, Panov era membro da inteligência militar ucraniana e teria "confessado" o suposto crime. Nas fotos divulgadas pela reportagem ele aparece preso e com o rosto machucado.

As movimentações da Rússia continuaram no dia 19. Nesta data Vladimir Putin fez uma visita surpresa à Crimeia, onde não ia desde agosto do ano passado. Na nova reunião com o Conselho de Segurança, realizada para adotar novas medidas de segurança na região, Putin voltou a acusar Kiev pela tentativa de "ataques terroristas" para inviabilizar o Acordo de Minsk e pela má vontade de manter boa relações com a Rússia. Mas estas duas declarações vieram num tom mais conciliador ao dizer que não havia qualquer plano de cortar relações com a Ucrânia, onde esperava que prevalecesse o bom senso, e ainda chamou seus oponentes de "nossos parceiros" possivelmente numa referência aos laços históricos entre os dois países. Nesta viagem o presidente russo também fez uma visita ao fórum educacional juvenil de Tavrida, realizado desde 2014 para formar uma comunidade de jovens artistas russos.

Desde então a situação mantém-se neste estado de tensão. As declarações de aparente conciliação de Putin na Crimeia não coincidem com a constante movimentação de tropas, exercícios militares, o aumento do número de soldados e munições e a continuidade dos combates no leste ucraniano. 

De acordo com a imprensa ucraniana, novos e amplos exercícios militares da Rússia iniciaram de forma rápida e simultânea em 26 de agosto com a mobilização de dezenas de milhares de homens das regiões militares Sul, Central, Ocidental e da frota marítima do Norte principalmente próximo das fronteiras com Ucrânia, Países Bálticos e na Crimeia. O objetivo era manter as tropas em prontidão para combate. Só na fronteira com a Ucrânia, em Donbass e na Crimeia foram alocados 41.600 homens de 24 grupos militares e 771 aviões e helicópteros. Enquanto isso os combates em Donbass continuaram. Apenas entre os dias e 4 de setembro houve pelo menos 27 ataques dos separatistas russos contra as tropas ucranianas, sendo 15 na região de Donetsk e 12 na de Mariupol, numa violação do Acordo de Minsk.   

(Separatistas pró-Rússia atuando na Ucrânia. Segundo as Forças Armadas ucranianas, seis mil recrutas russos atuam em Donbass e 35 mil separatistas são apoiados por Moscou.)

Analistas trazem diversas explicações para este aumento de temperatura. O pesquisador Aaron Lorewa diz que a principal razão desta nova tensão está nas eleições russas em setembro para a Duma e a crise no país combinada com as duas guerras em que Moscou está envolvida, na Síria e na Ucrânia. Para ele não teria como a Rússia sustentar ambos conflitos ao mesmo tempo, e justifica que a escalada nas fronteiras da Ucrânia serviriam para insuflar o nacionalismo e desviar a atenção para potenciais fraudes eleitorais. Mas Putin não precisaria disso, pois se o sistema eleitoral é dominado por membros do Kremlin não haveria necessidade gastar tantos recursos numa época de crise para mobilizar mais de cem mil homens e milhares de veículos e armamentos com o objetivo de desviar a atenção do público. Seria uma enorme mobilização desnecessária. Anders Asland, do Atlantic Council, faz um breve levantamento histórico dos grandes eventos que a Rússia esteve envolvida no mês de agosto: a ereção do Muro de Berlim em 1961, a Primavera de Praga em 1968, o golpe fracassado de 1991 e a Guerra da Geórgia em 2008. Neste último caso, Asland diz que o paralelo entre a atual tensão na Ucrânia e a guerra em 2008 são "chocantes". Ambos os casos ocorreram durante a escolha do presidente dos EUA, nos primeiros dias dos Jogos Olímpicos de Pequim e foram precedidos por grandes exercícios militares pelos russos. O histórico não garante a repetição dos fatos, mas a repetição do contexto da Guerra da Geórgia pode ser revelador de um modo de agir por parte do Kremlin.     

Penso que as breves análises de Noah Rothman e James Coyle chegam mais perto do problema ao destacarem o longo estancamento do conflito e a falta de reação dos países ocidentais às novas ações russas. Coyle destaca este estancamento e a crise econômica na Rússia, que combinados estariam forçando Moscou a intensificar o conflito. A questão parece mais complexa já que os russos têm poder para intensificar a guerra na Ucrânia, porém com o risco de uma possível reação do Ocidente. Apesar dos aliados de Kiev estarem cansados das sanções contra a Rússia e de sofrerem pressão de partidos aliados do Kremlin, isto são significa que estes países ficarão assistindo à escalada do conflito. Disto se deduz que Moscou está intensificando o conflito até o limite de uma reação ocidental e/ou da OTAN. É aí que entra a análise de Rothman (apesar de ter sido escrita cinco dias antes da de Coyle): Putin estaria forçando uma resposta do Ocidente, isto é, provocando para descobrir até onde é possível ir. Com as eleições americanas chegando, Obama sendo pressionado pelos colegas de partido a fazer frente às ações da Rússia e Trump declarando a possibilidade de relaxar as tensões com Moscou (além da Europa envolvida com o Brexit), o governo russo vai abrindo espaço numa Ucrânia cada vez mais enfraquecida e agora cercada. Isto abre a possibilidade, como diz um dos entrevistados pelo BBC, para que os separatistas consigam cumprir parte de sua agenda, que é legitimar politicamente as "repúblicas populares" de Donetsk e Luhansk, e levar o Acordo de Minsk ao fracasso. Não é interesse russo o cessar-fogo, ao menos não agora, já que isto diminuiria sua capacidade de barganha. Faltaria, portanto, uma reação dos países ocidentais para dificultar as pretensões da Rússia. É o que reclamou Yevhen Marchuk, membro do grupo Trilateral em Minsk, numa entrevista ao Ukraine Today:
 "Quando Putin disso isto [de acusar a Ucrânia de escolher táticas terroristas]?Depois de chegar a acordos com Erdogan. Qual era seu principal obstáculo no Mar Negro, no Bósforo e na Síria? A Turquia, e só então a OTAN. A visita de Putin a outro membro da OTAN, a Eslovênia, um sucesso? Foi. Ele e a primeira-ministra britânica concordaram em se encontrar? Isto pode não parecer significativo, mas eles entraram em concordo? Onde estava nosso presidente e diplomatas? Longe da Europa, mesmo embora sua visita fosse muito importante. Mas o que aconteceu durante a semana que ele estava ausente da Europa?"
A Ucrânia enquadra-se nos chamados frozen conflicts (conflitos congelados), que se caracterizam por não estarem necessariamente encerrados e não possuir um acordo paz definitivo. Eles são comuns nas repúblicas que compunham a antiga URSS e que hoje estão na esfera de influência da Rússia. Nestes países há territórios habitados por minorias étnicas com problemas de relacionamento com o governo central. Elas iniciam um movimento separatista que leva a um conflito armado. Este movimento vem acompanhado de ajuda militar russa, já que tais minorias ou são russas ou são simpáticas à Moscou, que intervém militarmente sob alegação de proteger russos no exterior ou aliados. São os casos da Transnístria na Moldávia, de Nagorno-Karabakh no Azerbaijão e da Abkházia e da Ossétia do Sul na Geórgia. O resultado é uma separação territorial de facto, mas sem o reconhecimento oficial de todo o mundo, à exceção da Rússia e pequenos aliados. Por não estarem definitivamente encerrados, estes conflitos podem reaquecer e dar início a novos confrontos armados.

(Territórios em disputa, local dos frozen conflicts, aparecem escurecidos no mapa. Em o todos os casos há atuação da Rússia. Somada à Síria, são uma anexação e seis intervenções simultâneas.)

Os frozen conflicts possuem quatro elementos que são determinantes para sua dinâmica: a instabilidade interna nos países onde ocorrem, o nível de estabilidade política da Rússia (o que influencia em sua política externa), a reação do Ocidente às ações russas e os objetivos do governo Putin. Esta análise foi feita por um grupo de especialistas da USIP (United States Institute for Peace) que propõe uma reavaliação da política externa americana na região. A mesma posição é defendida por Agnia Grigas, pesquisadora do Atlantic Council. Grigas afirma que os "conflitos congelados" estão interconectados e revelam "um padrão da política externa russa". A intervenção dá à Rússia o controle das regiões separatistas no longo prazo sem ter que necessariamente lidar com os custos de uma anexação (com exceção da Crimeia).  

O trabalho da USIP merece destaque porque mesmo tendo sido realizado no verão de 2014 (portanto há dois anos atrás) ele revela-se acertado sobre a dinâmica da atual tensão. Os especialistas dizem que Putin quer manter um "conflito constante", instabilizar a Ucrânia e "exibir a força russa frente à uma comedida resposta americana e europeia". É o que está acontecendo com as sucessivas violações dos Acordos de Minsk. A constante instabilidade regional e as falhas em estabelecer um cessar-fogo faz com que a crise se torne um "conflito congelado de facto". Ao mesmo tempo existe uma "falta de vontade e de habilidade dos EUA e das potências europeias (...) em apoiar a Ucrânia e motivar a Rússia a acabar com sua agressão". Além da guerra, o governo de Kiev mantém-se desgastado por pressão interna e externa por reformas políticas e financeiras que teriam como objetivo combater a corrupção e tornar o país apto a receber ajuda econômica ocidental. 

 (Dormindo no ponto: enquanto as potências ocidentais não reagem, a Rússia vai avançando no seu projeto eurasiano e vai incorporando a Ucrânia à sua esfera de influência.)

Conflito em andamento, envolvimento em duas guerras num momento de crise econômica, falta de reação do Ocidente e desgaste do governo ucraniano: é o cenário perfeito para Moscou agir. Com os EUA ocupado com as novas eleições, a Europa envolvida com o Brexit e o conflito se prolongando indefinidamente os russos encontraram mais espaço para intensificar sua atividade militar dentro e fora da Ucrânia. Não foi de graça que as novas ações começaram no final de semana de abertura dos Jogos do Rio, quando as atenções estavam voltadas ao Brasil. Mas isto já estava planejado antes dos conflitos na fronteira com a Crimeia (conflitos estes pouco convincentes dado o histórico de atuação do serviço secreto russo) como mostram as movimentações militares em Kerch no dia 6. Enquanto o Ocidente dorme no ponto sem dar sinais de uma reação efetiva, Moscou dá novos passos na implantação de seu projeto eurasiano.